Finding leveza
Dos diários de infância aos bebês reborns: como encontrar equilíbrio entre ser leve e responsável num mundo que exige que a gente cresça rápido demais?

Você sabia que essa newsletter é resultado de terapia? Pois é, amigas me falaram de uma técnica chamada EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) que é focada em reprocessar traumas — e foi graças a algumas (várias) sessões que eu consegui ressignificar uma experiência vivida na infância.
Contei sobre isso na primeira edição. Se você perdeu, não leu ou não lembra, segue um resuminho:
At nine years old in rural Brazil, I witnessed my grandfather’s cruel command to my grandmother—a moment that crystallized my understanding of gender inequality. Today, as we face renewed threats to women’s rights under Trump’s second term, I share this founding story as both personal history and a call to vigilance. I start my Substack with the promise I made to my ancestors: to help create a more equal world for all of us.
A escrita sempre esteve presente na minha vida.
Curiosamente, foi o meu avô (esse daí mesmo) quem me deu meu primeiro diário.
Eu tinha 9 anos.
(Taí um presente maravilhoso para se dar para uma criança assim que ela começa ler e escrever. Escrever nossas memórias é um privilégio.)
Talvez por isso eu tenha crescido uma criança bastante apegada com as palavras.
Eu era a CDF da sala e responsabilidade, meu sobrenome. (É que ajudei a criar os meus três irmãos mais novos.)
Então, digamos que leveza não era algo tão comum na minha vida.
Eu tinha um namorado que sempre dizia:
– Baixa essa guarda!
Uma das formas de encontrar leveza, segundo minha terapeuta, é na experimentação.
Então, para além da liberdade de escrever em portuglês, vou também testando novos formatos.
Mas pra saber se o teste deu certo, preciso de você!
Lembre-se: meus ouvidos estão bem abertos e querendo muito receber o seu feedback, críticas, comentários e sugestões.
💛 Antes de seguir, um agradecimento especial a Aline S. — terceira assinante paga da Barefoot Circle. Estou com o coração recheado de gratidão por ela, pelo Michael L. e pela Jéssica M. por confiarem e apoiarem o meu trabalho. Thank you! 🙏🏽
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JÁ QUE É A SEMANA DAS MÃES….
A onda de bebês reborns chegou pra mim em episódios do “Não Inviabilize” (Bebezinha e Bela), o podcast puro-suco-de-Brasil feito pela maravilhosa Déia Freitas.
Mas eu não tinha ideia que a coisa tava mais pra um tsunami.
Os casos de mulheres cuidando de bonecas em situações fantasiosas com direito a cesariana, visita médica no hospital, e batizado vêm ganhando mais visibilidade, especialmente depois do documentário “Bebês Reborn Não Choram”, do Chico Barney (e que eu ainda não vi).
A escritora Iana Villela, em entrevista à revista TPM, questiona quais desejos não atendidos fazem nascer essa febre nas mulheres? E sugere que talvez sejam os mesmos dos homens 40+ que jogam videogames, fantasiam-se de guerreiros, vão a feiras de quadrinhos brincando de ser magos e jogam RPG.
Por fim, ela provoca que a diferença é como a sociedade responde a essas duas pulsões para cada gênero. Jamais patologizando no caso dos homens, mas sempre questionando a saúde mental no caso das mulheres.
Achei a comparação pertinente.
Até porque a gente sabe que na infância os brinquedos dados às meninas são treinamentos para os papéis sociais esperados de nós: cuidadoras de casa (porque nem donas somos, as escrituras geralmente estão nos nomes dos homens), mães e cozinheiras.
A pressão é tamanha que são poucas as mulheres que têm hobbies ou que se permitem um momento de ócio ou descanso.
Eu mesma tenho muita dificuldade em não fazer nada. Tipo nada mesmo.
Não é nada e assistir um filme, ler um livro, ouvir um podcast.
É um nada de ócio: de ficar olhando pro tempo e pronto.
Vocês conseguem?
Mas, enfim, de volta aos reborns….
Depois de ver essa crítica na TPM, me deparei com a da socióloga, filósofa e terapeuta Jéssica Petit, n’
.No texto, ela tenta responder a seguinte pergunta:
“O que leva algumas mulheres adultas a investirem tempo, energia e libido no cuidado com bonecas, tratando-as como filhos reais?”
A Jéssica considera sintomático o apego masculino e feminino aos elementos da infância. Ela defende que não é saudável um adulto que não consegue romper com hábitos infantis:
“Acredito que estamos numa Era de muitos adultos disfuncionais, que não abandonam completamente a infância e seus padrões afetivos e de comportamento. Eu, particularmente, acho bastante preocupante. A maturidade psíquica pede o sacríficio de padrões de comportamento infantis.”
Troquei uma ideia com a Jéssica (nos comentários) sobre isso, e falei com ela sobre o meu dilema:
Como fui uma criança que amadureceu rápido tenho dificuldade em levar as coisas de forma lúdica e leve. Minha terapeuta sugeriu levar minha criança pra brincar! Colorir, pintar, correr, andar de bicicleta, qualquer coisa, desde que seja leve, playful.
Daí depois de ler a reflexão da Jéssica tô pensando em como encontrar esse equilíbrio — entre o lúdico, recreativo, discontraído e divertido do infantil.
Qual é a sua reflexão sobre esses comportamentos? Me conta!
♻️ FULL CIRCLE
As indicações dessa semana todos os meus grupos de WhatsApp e Telegram provavelmente já receberam. Essa é minha linguagem do amor: compartilhar as coisas que eu aprendo com quem eu amo.
Então, segue o meu abraço de amor:
FINCH APP: falando em adultos infantilizados…talvez essa dica receba críticas, MAS… se você é da época dos Tamagotchi e tá querendo cuidar da saúde mental (hello, everyone?), esse app usa gamificação para ajudar numa rotina saudável. A saúde do seu bichinho virtual depende do seu autocuidado. Eu baixei essa semana e tô explorando. Use esse link e venha fazer seu Tamagotchi ser amigo do meu! Ahahah
CHUMBO & SOUL — podcast conta sobre a ditadura do Brasil sob a perspectiva negra. Eu sou fã da Rádio Novelo e foram eles quem produziram o podcast, então assim… qualidade de primeira! O único porém é que é um exclusivo Audible, da Amazon…🫠
EMDR — in English and Portuguese para quem ficou curioso sobre a técnica.
DOMINGUINHO — O novo álbum do João Gomes, Mestrinho e Jota pê chegou no meu radar por uma amiga (um cheiro, Aline A.!) e eu curti demais. Saudades de dançar um forrozim!
Falando em dançar… dancei bastante no show do Seaun Kuti em Hollywood (consegue me achar nesse clip?) e hoje tem Gilsons no Miami Beach Bandshell. 😁
“O movimento também cura dores”, escreveu uma amiga querida (beijo, Ewe!) e ela tem razão. Enquanto não acho um forrozim legal pra ir, vou dançando outros ritmos.
Afinal, o objetivo é encontrar: leveza!
Stay curious and courageous,
Ana Clara Otoni 💛